3 de ago. de 2008

Reforma agrária da cultura

Ir ao teatro no Rio de Janeiro pode significar duas coisas: ou se tem dinheiro ou se tem tempo. Explico, primeiro, pelo mais simples. Ter dinheiro é um requisito básico, afinal, as entradas não custam nada barato. Justo, pelo trabalho de dezenas de pessoas entre atores, produtores, figurinistas, diretores, o aluguel do teatro, enfim... eles precisam receber. No entanto, digo ter dinheiro também no sentido de "morar bem" (leia-se zona sul da cidade). Grande parte dos palcos estão localizados na área "nobre", então, as pessoas que habitam nestes locais são privilegiadas. Desde, claro, que tenham dinheiro para as entradas.

Aí, reside a outra questão. Como os teatros ficam concentrados em uma parte da cidade, as pessoas que moram em outras áreas têm que se deslocar para assistir às peças. Neste momento, começa a maratona de muita gente, como a minha.

Decidida a assistir uma peça na penúltima semana em cartaz, saí às 19h de casa, rumo à Gávea. Passados 1 hora e 10 minutos entre ônibus-metrô-ônibus, cheguei à fila da bilheteria. Mais 40 minutos aguardando minha vez (pois havia apenas uma pessoa para atender), consegui comprar minha meia-entrada. Na volta pra casa, mais 1h hora e 20 minutos entre ônibus-metrô-ônibus. Somando tudo, inclusive o período da apresentação teatral, posso dizer que levei 5 horas e meia para me dedicar à cultura. Isso é facilitar o acesso às pessoas?

Isso me fez refletir sobre o pedido
do diretor Murilo Salles (do recente Nome próprio), sobre a presença do público no fim de semana de estréia de um fiilme. Como propagar o cinema nacional se o filme estreou em apenas três salas?? E todas na zona sul da cidade. Quer dizer que quem mora em outras áreas não tem direito a assisti-lo, ou deve dar um jeito para vê-lo?

Brasil, um país de todos (e cultura só para alguns).

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