27 de ago. de 2008

Coroa de oliveira

As Olimpíadas acabaram e os olhares para China diminuem. A imprensa mundial se retirou e ficam alguns correspondentes, pelo lado oriental , falando apenas sobre o crescimento econômico deste grande emergente.

Tudo bem que questões do comunismo ditatorial são deixadas de lado, a não ser quando este impossibilita alguma abertura econômica. No entanto, pouco se fala da obrigatoriedade do baixo número de filhos e de famílias que não registram as crianças não primogênitas (lá só se pode ter UM filho por casal); não se fala da impossibilidade de expressar sua crença (só agora com a questão do Tibet, mas há tempos cristãos são perseguidos); pouco se fala da exploração de mão de obra e do que é feito com as crianças para que elas alcancem resultados como aqueles visto nos Jogos Olímpicos.

Pelo menos tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da realidade desse povo tão rico culturalmente, mesmo em meio às adversidades, ainda que somente neste período de "união mundial". Opa, falando assim a China me lembrou um país conhecido da gente. Cultura rica, direitos cerceados, trabalho escravo, filhos sendo descartados... É isso mesmo, é a terra do futebol! Está bem, mais ou menos terra do futebol (o feminino ainda nos salva, pelo menos).

Embora conheça da China o que foi passado neste curto período e um pouquinho mais, através de algumas aulas de geografia ou curiosidades repentinas, poderia fazer render um texto inteiro sobre esse país. Mas, volto a falar de Brasil e suas semelhanças com a China.

Quando falamos de ditadura, respiramos aliviados, afinal, estamos em 2008 e não mais em 1964. Ah que bom seria se assim fosse. De Brasil posso falar com mais propriedade de Rio de Janeiro, aqui vivemos num país democrático e não seria diferente na nossa cidade. Temos liberdade de expressão, podemos escolher nossos representantes, temos direito de ir e vir, de usar a roupa que quisermos etc etc etc. Temos mesmo?

Engraçado, enquanto ia escrevendo isso, ia me lembrando de um monte de exemplos que contradizem o que acabei de afirmar. Mais exemplos até dos que me motivaram a escrever este texto. Não seria tão incoerente morando tão perto de favelas (tudo bem, quem hoje, no Rio, não mora perto de favelas?) e me relacionando com moradores das mesmas (amigos, pessoas no trabalho e tudo mais). Há pouco tempo uma comunidade aqui foi invadida e, como os moradores locais já sabem, hora para voltar, hora para sair, ora se pode voltar (muitos dormem nas casas de amigos, porque não podem retornar para as suas) e obrigatoriamente se tem que sair, afinal, precisa-se trabalhar. Nestes dias tumultuados, um amigo de lá me disse: fui trabalhar às sete da manhã, em meio ao tiroteio. Olha que tem quem reclame que sai para trabalhar em meio a chuva...

Outro me disse: "Ih, se a favela for tomada, novas leis imperarão por lá". Leis essas que são cumpridas de maneira exemplar, lá não existe essa história de que brasileiros transgridem as leis, não há essa cultura de "será que essa lei pega?", ali as leis foram feitas para serem cumpridas, obedecidas e punidos os que não as obedecem. E olha que ninguém se dar o trabalho de escrevê-las em milhões de códigos civis e penais, o código utilizado é a fala mesmo,o antigo e eficiente método "boca à boca". Democracia?

Além disso, esses exemplos de democracia me fizeram lembrar um acontecimento recente, do qual saiu muita lama com cimento. E que Deus provindencie as mudanças a partir do social que a imprensa fez por lá. Primeiro, os que mais precisavam dar exemplos de cumpridores da lei se renderam às leis não descritas em código nenhum. E, com as cabeças acimentadas, brincaram de entregar humanos à facção rival. Depois disso, que foi só a ponta do "iceberg da obra", vieram à tona as ações coronelistas para a escolha dos candidatos à cargos eleitorais, deste ano de 2008. Democracia?

Liberdade de roupa e de imprensa, nem se fala. Lembram da cor de roupa a ser usada no início do piscinão de Ramos? E dos "Tins Lopes" que existem? Democracia?

E, para encerrar as comparações com o país campeão olímpico, termino com o treino das crianças. Na China, os pais deixam os filhos, desde pequenos, em concentrações esportivas. Estes têm treinos duríssimos, nos quais ,quando há erros, os pequenos são castigados e as crianças são treinadas para a perfeição. Aqui, os pais são obrigados a deixar seus filhos em concentrações que mais parecem campos de guerra, em escolas que não têm aulas e nas ruas que têm muita coisa para ensinar. Nelas, eles aprendem a manusear armas, a ser malandros, a se comunicarem, a ser aviões e até "foguetes". Conhecem as leis locais como ninguém e sabem bem qual será o pódio. A diferença é que a medalha tem calibre e a coroa não é de oliveira, mas de flores, se assim o dinheiro dos pais permitir. E quanto a glória, essa será a de Deus! É, democracia?

2 comentários:

Alan Pacífico disse...

Parabéns pelo artigo! O blog está cada vez melhor!
Agora, enquanto eu lia este artigo sobre a China lembrava-me constantemente da figura emblemática (Diria fantasmagórica) do conhecido jornalista Pedro Bial, que em meio às marolas de suas crônicas cada vez mais sem sentido, parecia esquecer-se de que é um brasileiro. Lembrem-se que ele fazia questão de frisar a questão da liberdade de imprensa, e eu me perguntava se ele não assiste a TV nacional onde somos obrigados a ver a porcaria diária.
Cabe também outro comentário a respeito de nosso "ícone" Galvao Bueno, pseudo intelectual e candidato a cadeira de imortal na Academia Brasileira de Letras (rs) que parecia querer expôr nossos atletas ao constrangimento. Será que ele conhece as condições que nossos atletas treinam? Ou será que ele já tentou comparar esta realidade aos treinamentos de atletas chineses ou norte-americanos? Pelo Amor de Deus! Que a nova geração de jornalistas seja mais criativa, politizada, consciente e acima de tudo BRASILEIRA.
Enfim, já era previsto que nestas Olimpíadas a China iria, ao mesmo tempo se exibir e expôr as feridas para o mundo. Mas ainda senti muuuita falta de conhecer o "outro lado" da China, não vamos nos esquecer que apesar de toda pirotecnia de Pequim, a China é um país 70% Rural, onde a maioria da população é analfabeta e miserável. Ficou claro nestas Olimpíadas, pelo menos aos homens de bons olhos que "Crescimento econômico" (Quantitativo) não pode continuar sendo sinônimo de Desenvolvimento (Qualitativo). E ao mesmo tempo nos mostrou uma nova cara do inferno de superpotência mundial que em no máximo 10 anos vamos conhecer.
Enquanto isso...Guenta coração!

Anônimo disse...

eu não quero saber disso, só0 gostaria de saber sobre a coroa e não sobre o país dããã, presta mais atenção no titulo que coloca mas obrigado