29 de abr. de 2010

Lá vai ela falar de transporte público


Há um ato extremamente interessante e que a sua falta ainda leva pessoas, até povos, à guerra. É o "ouvir". Como gosto de ouvir as pessoas e como percebo que elas se sentem importantes ao serem ouvidas. Diante de pessoas, sinto-me tomada por meu senso de jornalista e por uma pontinha de psicológa. Às vezes faço perguntas, simples, e elas se lançam; outras, apenas olho, sorrio, e talvez se sintam confortáveis para falar.


Poderia escrever um livro com tantas histórias de pessoas que, na rua, conversam comigo. Vejo nelas fontes de informação, de compreensão e formação da minha opinião sobre como minha indignação é real e concreta nas suas vidas.


Bom, fiz uma introdução nada parecida como as que ensino para os meus alunos, para falar sobre injustiça e sobre a minha pequenez quando ouço o que algumas pessoas passam.

Quem aqui está totalmente satisfeito com sua vida que lance a primeira pedra ou comente nesse blog, porque "pelamordedeus", não encontro. Esta semana, cansada do engarrafamento diário, do meu estresse de cada dia, amém, parada na roleta pra aguentar o cansaço, perguntei ao trocador se eles fariam a greve cujo boato estava rolando por aí (até porque precisava saber qual seria minha possível aventura para chegar no trabalho, caso houvesse a greve). "Quem faz greve é patrão", disse ele, aumentando o tom de voz e passando ao motorista as informações do trânsito que ouviu no rádio."Tem que ouvir isso, é meio de comunicação", ele me disse, me aconselhando. Mostrei-me muito interessada no que dizia e pronto, foi o suficiente.


Começamos a falar sobre as suas condições de trabalho; como motorista sofre no verão do Rio e ainda mais com o motor ao seu lado; como essa vida é cansativa. Aí veio minha indignação: vocês sabiam que eles devem fazer 6 viagens, não importa o engarrafamento que peguem, o tempo que levem para completar? O trocador me disse assim: "Filha, pegamos cinco e pouca da manhã e, às vezes largamos quase dez da noite". Apresentei pra ele minha idignação, pelo menos para sentir meu apoio, minha revolta e mostrá-lo que alguém na sociedade não concorda.

Falei do preço da passagem, o quanto ela aumenta e perguntei se seus salários aumentavam." Nem dez centavos", respondeu ele. O que é isso? Os ônibus são horríveis, o ar só funciona no inverno e, no verão, é uma sauna que custa três reais (R$2,90). O meu parece do interior, se eu perco o das 18h , só passa outro quase 19h. E, às vezes, precisamos abrir guarda-chuva dentro do ônibus, ou por causa do ar ou por causa da chuva. Além de motoristas tão estressados - agora sei o motivo- que parecem levar caixas dentro do ônibus, acelerando e freando. E o aumento da passagem não é repassado para os rodoviários e nem para melhoria dos ônibus? Vai pra quem então?


Acho melhor eu parar por aqui, porque andei relendo meus posts no blog e estou quase me candidatando à Marina Silva ou Heloísa Helena do transporte público do Rio de Janeiro. No mais é isso, vamos ver no que vai dar, ouvi falar que vai ter licitação para as empresas de ônibus, tomara que ganhe aquela que tenha um veículo voador, capaz de ultrapassar a Av. Brasil e chegar no centro da cidade em 40 min, pelo menos!