29 de mai. de 2011

O que motiva as tuas escolhas?



A intenção do blog não é transformá-lo na nossa autobiografia.Mas,peço licença as minhas colegas, para falar de mim e,assim, chegar ao ponto que desejo.

Estou vivendo um novo,diante das escolhas que precisei fazer em relação a minha profissão.Retorno aos bancos universitários, virei caloura de novo e confesso:o ambiente acadêmico me seduz. A diversidade da Universidade Estadual também.Quantas cores,quantas classes,quase um sonho da democratização do ensino superior,mesmo sabendo que tanta diversidade se restringe a alguns cursos,os não considerados de elite.

Para alguns, depois de três anos formada em Jornalismo pela UFRJ, ir para Letras é uma surpresa."Mas, e tua profissão? Você quer dar aulas? ", perguntas como essas não faltaram, junto com a cara de horror por descer na escala do status social. Afinal, que você seja médico, advogado, engenheiro, jornalista, porém, professor? Ah, isso não!

Contudo, há algo além de status que move as minhas escolhas.É aquilo que dá brilho nos olhos,a sensação de estar sendo útil,o coração acalentado e lágrimas quando o camarada chega para mim e fala: "professora,passei no vestibular!".E esse camarada a que me refiro,muitas vezes, lutou contra todas as adversidades de uma casa pequena,de uma renda mínima, de faltas de sonhos e de uma família que lhe dizia: "estudar para quê?Pobre tem é que trabalhar!"

Aí, dando um giro de 180°,vejo-me na UPA, que de pronto atendimento tem nada, sendo atendida por uma moça que mal me olha e nem me examina. "Doutora,estou com febre alta há dias e sinto dores nas costas,na costela e na cabeça".Um exame de sangue e dipirona para passar tudo isso.

Saí de lá me perguntando o porquê dessa moça ter escolhido ser médica. E não venha a classe me dizer que é o excesso de trabalho,porque isso eu também tenho e ainda os trago para casa. Eu ganho menos,por mês, do que aquela moça ganha por um plantão na UPA.Eu dou aula,eu ouço desabafos dos alunos, eu rio com eles e me emociono com suas conquistas,eu os motivo e as pessoas se espantam com a escolha que hoje faço.E eu me pergunto: o que fez aquela moça escolher ser médica?

Porque o que me faz querer dar aulas e, na mais pura utopia dos meus vinte e poucos anos, plantar sonhos, é acreditar na vida.E ela que é médica,será que se esqueceu do que é vida?Será que se perdeu no brilho de ser chamada de doutora e de ser vista como a inteligente porque estudou mais de sete anos?

Pobrezinha, entende o corpo humano,mas não o ser humano.Ao mesmo tempo que é a elite da sociedade,parece fazer questão de ser a escória da humanidade, se juntando a um monte deles que ainda entenderam nada da vida.