7 de dez. de 2012

Amor e idiotas, nada mais natural

Tem tempo que não passo por aqui. Tem muito tempo mesmo! É a concretude do paradoxo na vida de um ser que faz Letras: ele quase nunca consegue escrever.

Bem,comecemos então. Estava pensando no amor. Na verdade, depois de uma reunião de escola, na qual foi falado sobre o assunto dentro de uma aula de filosofia e sobre como os alunos gostam da aula, fiquei pensando porque nós gostamos desse assunto. Com isso, fiz uma pesquisa breve no Google sobre a visão de Schopenhauer (gosto de escrever essa nome,porque é alemão e lembro as pessoas o pronunciando erroneamente, como se isso mudasse a vida); depois, lembrei a primeira carta de Bento XVI, falando sobre o amor Eros e como Nietzsche ( o "t" com "z" é um desafio para pronúncia) interpretou equivocadamente a visão da Igreja sobre esse amor. Enfim, no fim, desisti de ler tudo isso para escrever um simples texto no blog.

É sempre um desafio falar sobre um sentimento tão falado,mas, na maioria das vezes, falado de forma piegas. E acho que nem eu conseguirei fugir disso. Ou não (como diria Caetano). Os mais íntimos conhecem a minha fama: nunca fui expert no assunto. A verdade é que, várias vezes, ajo como quase todos nós já agimos ao acreditar no amor. Ame alguém e acredite ser amado; quando um lado age de modo contrário ao amor, como você age? Quantas vezes choramos, nos questionando "por que fui tão idiota? Como pude acreditar em X?".

A partir disso, fiquei pensando nesses pensamentos que temos a cada relação frustrada. Não fomos idiotas, fomos pessoas. Todos nós temos um desejo de amar e ser amado que nos faz acreditar no outro que diz nos amar. Nada mais natural do ser humano, nada mais tão dentro da linha do que isso. É certo que numa relação, dificilmente, as pessoas amam da mesma forma. Haverá sempre alguém que ama mais, ou melhor, que consiga equilibrar o amor eros e ágape, entendendo mais um pouco as "medidas" do amor, o momento de deixar livre, o momento de estar junto, e até o gesto nobre de deixar o outro ir, se isso for melhor pra ele.

Não há nada de filosófico no que eu escrevi,mas vejo, ouço e vivo muitas vezes histórias que seguem o mesmo "roteiro". O pior, ou melhor, é que sempre acabamos do mesmo jeito: não quero mais amar; não vou mais amar outra pessoa; coração blindado para sempre. Afinal, o amor é só um meio para procriarmos, mesmo que nos iludamos e não achemos que seja apenas para isso. E isso poderia me deixar mais tranquila, mas não. Meu relógio biológico está passando da hora; se um dia eu não puder mais procriar, aí que estou ferrada e desistirei de vez desta coisa chamada amor que nos move desde a percepção da nossa existência.

8 de jul. de 2012

O luto na casa da fé

Já escrevi alguns sentimentos, mas fiquei esperando um tempo para refletir o que é o luto. Hoje, depois de um mês, e um dia antes de passar meu primeiro aniversário sem meu pai, procurei o significado da palavra luto. Nenhum foi tão satisfatório quanto o que me vem agora: luto é o mesmo que saudade. E até consigo falar mais facilmente a palavra luto,porém, a palavra saudade engasga na minha garganta  e mal consigo pronunciá-la.

E entendo o porquê. Essa saudade é diferente de qualquer outra saudade que já senti. Não é saudade de alguém que viaja,porque a pessoa pode voltar; nem de namorado que você não tenha mais,porque uma hora você se convence de que não tem que sentir mais nada e bota pra jogo o amor próprio; não é saudade de um tempo passado.E a saudade de alguém que você perdeu e que não vai voltar; que o amor próprio não vai dar jeito e nem o tempo trará a pessoa de volta. É a saudade mais vazia que existe,porque é de alguém que se foi para sempre.Mas é a saudade mais cheia de amor, de lembranças e de saudade. É a saudade que ora dá vontade de falar da pessoa para ver se diminui, ora dá vontade de nem ouvir seu nome.

Repetimos inúmeras vezes: ele descansou, foi melhor. Sabemos disso todos nós aqui em casa e, talvez, essa seja a desculpa mais esfarrapada para escondermos as nossas dores e as nossas lágrimas. A corajosa mesmo é minha mãe, ela chora, diz que sente falta dele, pega a sua foto e olha por vários minutos. A covarde sou eu, nem sua foto tenho coragem de olhar mais;mas, não há um só dia que eu não sinta a sua falta e que isso não transpareça no meu olhar, velado pelos óculos.

Convivemos com a sua morte por onze anos. E vínhamos nos conformando com a chegada dela. Aquele início de quarta-feira, quando ela realmente veio, pensei: acabou. Queríamos todos que seu sofrimento acabasse, mas queríamos todos,no fundo, um milagre.Meu pai, ali deitado. Horas antes eu lhe disse por telefone que o amávamos. Que o amamos! Perguntei à médica onde estava a minha mãe e ficamos resignados. A médica disse: fizemos de tudo. Só que o tudo naquele momento já não bastava,porque sua missão tinha acabado.

Consolar minha mãe, resolver a papelada, pegar o óbito, resolver o enterro,ligar para os amigos. A burocracia que nos impede o luto. Entretanto, o luto- que já fomos vivendo nos 40 dias de internação - só foi suportável porque foi o luto que hoje eu chamo de "o luto na casa da fé".  Essa fé que nos faz acreditar que foi o melhor, que nos faz levantar e trabalhar dias depois da perda. A fé que nos faz sorrir quando o coração está um caco. Essa casa acolhedora que nos dá coragem.

A saudade paralisa; a perda pode trazer culpas; a vida pode perder o sentido. Mas não para quem vive o luto na casa da fé. Não ouvi de Deus, em meus momentos de oração, que meu pai ficaria curado. Ouvi Dele que era momento de preparar meu coração e de já ir abrindo a porta da "casa da fé" para entrar no cômodo do luto. Esse cômodo que passamos em alguns momentos ao longo do dia, porém, o dono da casa nos mostra que não é para fazermos desse cômodo nossa morada.

Depois de um tempo, esse quarto será menos visitado, só que é certo que a vida toda, minha família e eu, voltaremos a entrar nele de vez em quando, deitaremos em sua cama e choraremos a saudade. Por enquanto, tenho entrado lá todos os dias, mas, na casa da fé, o luto vira sinal de esperança, e o dono da casa consola o coração, a fim de nos preparar para o dia em que todos nós estaremos sentados à mesa, na casa da fé, junto com meu pai.