3 de abr. de 2011

Carnaval o ano inteiro?


Para muitos brasileiros esta resposta é afirmativa. Sim, o carnaval dura o ano inteiro. Mas não é aquele carnaval da folia, das escolas de sambas e dos blocos de rua. Uso a palavra carnaval em sentido de diversão, alegria. Ok, mas ainda não estou entendendo o motivo do post, podem se perguntar alguns. Explico-me, então.

Sou mais uma das cidadãs que diariamente usa o transporte público. No Rio de Janeiro existem muitas falhas na malha rodoviária, o trânsito começa a ficar insuportável como em São Paulo e, para não perder tempo, utilizo o metrô com certa frequência. Eu e mais 600 mil pessoas diariamente. No horário do rush, de manhã e à noite, somos obrigados a andar esmagados nos vagões do metrô, porque o serviço não acompanhou os números de crescimento da cidade. Feito sardinhas em lata, viajam todos os dias trabalhadores, estudantes, crianças, idosos, enfim, todos os tipos de uma sociedade. Só que, para alguns, essa viagem - mais especificamente na hora de entrar e de sair do vagão - é uma espécie de carnaval diário. Elas gritam, riem, empurram, riem um pouco mais, e acham normal empurrar outros seres humanos para entrar no trem, ou para sair dele antes das portas se fecharem.

Essa expressão "carnaval diário" foi dita por outra usuária do metrô, que estava no mesmo vagão que eu na última sexta feira, no rush noturno. Na chegada à estação Central do Brasil, as pessoas saiam se batendo e gargalhando. Comentei em voz alta como era impressionante as pessoas rirem de uma situação como essa, como se fosse tudo muito normal. A senhora justificou: "esse é o carnaval diário delas". Demos início a uma conversa até a estação terminal, na qual ela e eu concordamos que é preciso reclamar, que isso não é nada normal.

Nós precisamos sim reclamar dos maus serviços, porque pagamos caro por eles (no último sábado a tarifa do metrô do Rio tornou-se a mais cara do país, a R$3,10), pagamos impostos em todos os produtos e serviços que consumimos, taxas essas que deveriam ser revertidas em infraestrutura para que a viagem casa-trabalho trabalho-casa não fosse um transtorno para a maioria dos trabalhadores todos os dias.

Mas porque essas pessoas não reclamam? Porque lhes falta a consciência de que a reclamação é importante e que sim, pode fazer diferença. Todos nós temos o poder nas mãos, o poder de mudar, de sermos efetivamente cidadãos, basta termos consciência disso. Cidadania não é só votar. Viver não é só trabalhar, voltar para casa, assistir novela, BBB e dormir feliz ou contente porque seu time ganhou ou perdeu.

Para mim, carnaval é apenas uma vez ao ano (aquele, do outro post desse blog). Por isso continuo relcamando sim, converso com os outros sobre a possibilidade de transformação que depende de cada um de nós, tento melhorar não só para mim, mas para o coletivo. Vivemos em sociedade, não é mesmo? Então, que tal comerçarmos a unir nossas forças para fazer valer essa vida? Sem apertos nem empurrões, claro.

Um comentário:

Ju Rettich disse...

Os nossos serviços públicos são tão ineficientes que chego a pensar: por onde começar? Como e com quem reclamar?
A Secretaria de Transportes está lado lado com a da educação,pensando bem, todas são muito ruins e viva o governador com suas UPPs.Estou há uma semana ligando para sectran, a fim de saber se o vale social do meu pai está pronto e ora ngm me antende ora só dá ocupado. Subentende-se que alguém que pede vale social é oriunda de uma classe mais desprovida e não tem condições de ficar indo toda semana na Sectran,para saber se o vale está pronto.Este país continua sendo um atraso e as autoridades continuam debochando da nossa cara.O pior são aqueles que, quando entram no serviço público, mesmo sendo do povo, nos tratam da mesma forma que o governo tem nos tratado há anos.