Há um ato extremamente interessante e que a sua falta ainda leva pessoas, até povos, à guerra. É o "ouvir". Como gosto de ouvir as pessoas e como percebo que elas se sentem importantes ao serem ouvidas. Diante de pessoas, sinto-me tomada por meu senso de jornalista e por uma pontinha de psicológa. Às vezes faço perguntas, simples, e elas se lançam; outras, apenas olho, sorrio, e talvez se sintam confortáveis para falar.
Poderia escrever um livro com tantas histórias de pessoas que, na rua, conversam comigo. Vejo nelas fontes de informação, de compreensão e formação da minha opinião sobre como minha indignação é real e concreta nas suas vidas.
Bom, fiz uma introdução nada parecida como as que ensino para os meus alunos, para falar sobre injustiça e sobre a minha pequenez quando ouço o que algumas pessoas passam.
Quem aqui está totalmente satisfeito com sua vida que lance a primeira pedra ou comente nesse blog, porque "pelamordedeus", não encontro. Esta semana, cansada do engarrafamento diário, do meu estresse de cada dia, amém, parada na roleta pra aguentar o cansaço, perguntei ao trocador se eles fariam a greve cujo boato estava rolando por aí (até porque precisava saber qual seria minha possível aventura para chegar no trabalho, caso houvesse a greve). "Quem faz greve é patrão", disse ele, aumentando o tom de voz e passando ao motorista as informações do trânsito que ouviu no rádio."Tem que ouvir isso, é meio de comunicação", ele me disse, me aconselhando. Mostrei-me muito interessada no que dizia e pronto, foi o suficiente.
Começamos a falar sobre as suas condições de trabalho; como motorista sofre no verão do Rio e ainda mais com o motor ao seu lado; como essa vida é cansativa. Aí veio minha indignação: vocês sabiam que eles devem fazer 6 viagens, não importa o engarrafamento que peguem, o tempo que levem para completar? O trocador me disse assim: "Filha, pegamos cinco e pouca da manhã e, às vezes largamos quase dez da noite". Apresentei pra ele minha idignação, pelo menos para sentir meu apoio, minha revolta e mostrá-lo que alguém na sociedade não concorda.
Falei do preço da passagem, o quanto ela aumenta e perguntei se seus salários aumentavam." Nem dez centavos", respondeu ele. O que é isso? Os ônibus são horríveis, o ar só funciona no inverno e, no verão, é uma sauna que custa três reais (R$2,90). O meu parece do interior, se eu perco o das 18h , só passa outro quase 19h. E, às vezes, precisamos abrir guarda-chuva dentro do ônibus, ou por causa do ar ou por causa da chuva. Além de motoristas tão estressados - agora sei o motivo- que parecem levar caixas dentro do ônibus, acelerando e freando. E o aumento da passagem não é repassado para os rodoviários e nem para melhoria dos ônibus? Vai pra quem então?
Acho melhor eu parar por aqui, porque andei relendo meus posts no blog e estou quase me candidatando à Marina Silva ou Heloísa Helena do transporte público do Rio de Janeiro. No mais é isso, vamos ver no que vai dar, ouvi falar que vai ter licitação para as empresas de ônibus, tomara que ganhe aquela que tenha um veículo voador, capaz de ultrapassar a Av. Brasil e chegar no centro da cidade em 40 min, pelo menos!
2 comentários:
Menina.. vc escreve tão bem que não deixa espaço para comentar...
É isso mesmo, vamos torcer para que essa licitação, o corredor viário, e a linha 4 do metrô faça o carioca sofrer menos para chegar no trabalho e sair dele.
Ah, cabe comentário sim...
Pessoas como você, salvam o dia de um ou outro rodoviário. É uma tarefa árdua levar pessoas daquela forma. E se vocês se sentem uma caixa, acredite, nós motoristas e agora, motoristas cobradores, não temos existência ou somos os objetos de descarte.
As licitações que vejo, [obs.: 2, 3 meses após seu escrito], são para dividir as empresas de ônibus pelas linhas que não são atendidas com "eficiência".
Gostei da forma como conduziu sua opinião "dentro do ônibus". É bem interessante o seu único caso isolado de preocupação com as ferramentas e condições desse trabalho.
Funcionários são representantes da empresa e logo devem ouvir as reclamações de todos os passageiros. E o que ocorre:
Por um período na Viação Saens Peña, Micro-ônibus com integração metro 217A, ouvi diversas reclamações sobre o AR CONDICIONADO. Bem legal que as medidas tomas pela empresa em casos de extremo calor é levar o carro para a garagem e jogar água...
Não há troca de filtro, gás, manutenção...
E lá vai o motorista que não sai dos 48º com motor vedado e aprox. 52º sem a vedação... Funcionário não conta...
O legal é ver diversas pessoas que até teriam a responsabilidade por fazer parar isso tudo, inertes. É tão fácil prejudicar o motorista, enquanto a empresa prossegue.
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