12 de jun. de 2009

Garapa ou cola, dá no mesmo


















Gosto do cinema brasileiro, não nego, não escondo e vou assistir. Em função disso, fui ver Garapa, claro! Lamentavelmente saiu de cartaz, mas José Padilha, neste filme, manteve a sensibilidade com que olha para as realidades veladas do nosso Brasil. Realidades que gritam, mas que o poder público finge não ouvir.

Já esperava sair reflexiva da sala de cinema. Já sabia que teria assunto para partilhar com vocês, aqui no blog. Apesar de gostar de cinema, não entendo muito, porém, acho que posso falar de uma estética interessante que José Padilha usou colocando o filme em preto e branco e buscando não interferir na realidade que queria mostrar. Contudo, achei que o filme em preto e branco não mostrou alguns detalhes que seriam importantes. Por exemplo, havia muitas moscas em uma criança e, quando a câmera chegou bem perto, parecia que a perninha do bebê estava com feridas, por isso, tantas moscas. Outro detalhe que não aparece é a cor da Garapa, certamente mostraria o quão rala é a única opção que aquelas crianças tem para se alimentar.

No entanto,outros detalhes também importantes estão martelando na minha cabeça. Não paro de ouvir a voz de uma das crianças falando: "mãe, me dá a garapinha". Gente, ele pedia como se fosse o achocolatado que, os que podem tomar, tomam. E como se fosse a refeição dos intervalos e não a refeição ÚNICA e principal deles.

Saí do cinema, numa sala em Botafogo (aliás, o único lugar em esses tipos de filme são exibidos), olhei para o Rio de Janeiro e me lembrei das crianças que temos aqui. Lembrei-me das que ficam embaixo dos viadutos, as que andam por aí nas nossas ruas, as que tomam um outro tipo de garapa, aquela que vicia, que deixa doidão, mas faz matar a fome, passar o frio e esquecer que são o incomodo dos nossos olhos, diante da beleza de nossa cidade: a cola.

Saio do cinema e me pergunto: qual é a diferença? Qual é a diferença entre as crianças do nordeste e as crianças que aqui vejo? Miséria é miséria, fome é fome, aqui, no nordeste, na África!

E a tristeza que me toma é a mesma. E graças a Deus que ainda me toma a tristeza, pois, o dia que eu nada sentir é porque também me corrompi e coloquei esse problema à margem das minhas possibilidades de fazer algo e na indiferença para os meus sentimentos.

Um comentário:

Alan Pacífico disse...

Muito bom o artigo, Juliana.
Nos faz recobrar toda a sensibilidade e indignação que todo o ser humano deve ter diante das situações (des)humanas.